15 dezembro, 2011

Cinema: filmes “cults” ou blockbusters? Legendado ou dublado?

O que você prefere? Filmes dublados ou legendados? Filmes mundialmente conhecidos ou aqueles que ninguém nunca ouviu falar e nem sequer passou no cinema da sua cidade? Dependendo da sua criação, do seu círculo social e seus gostos adquiridos, a resposta irá variar. Mas, no geral, o que os brasileiros preferem? Essa preferência deve anular a democratização dos cinemas?
Primeiramente vamos esclarecer o termo blockbuster: em sua tradução literal, o termo significa “arrasta-quarteirões”, surgido em 1975, após o sucesso do filme O Tubarão, de Steven Spielberg. Desde então, todos grandes sucessos de bilheteria (como Crepúsculo e Harry Potter) também passaram a ser considerados como blockbusters.
Não é tão incompreensível assim que os cinemas, integrantes do sistema capitalista, coloquem em cartaz principalmente – e, às vezes, apenas – os filmes que garantirão lotação em suas salas. Mas a indústria cinematográfica vai além dos filmes conhecidos mundialmente, e, muitas vezes, têm em seus diretores e elencos grandes nomes (como Woody Allen e Lars Von Trier), mas, ainda assim, não o suficiente para entrar em cartaz e atrair um público tão grande quanto os blockbusters. Mas então, o cinema deve ou não exibir atrações que satisfaçam todo o tipo de público? É óbvio que sim.
A estudante de jornalismo da Universidade Paulista (Unip), Nicole Prestes, 21, que morava na cidade de Americana conta que era difícil assistir filmes além dos hollywodianos. “A alternativa era viajar até Campinas para assistir os filmes ‘cults’ ou autorais”, conta a estudante.  Ao se mudar para Campinas, Nicole pôde aproveitar muito mais as vantagens oferecidas com as alternativas das grandes redes cinematográficas. “Ainda sim, nem todos os filmes esperados do circuito independente chegam por aqui”, acrescenta.

Mas e quando os filmes entram em cartaz, mas são em cópias dubladas? Nos últimos anos, se tornou ainda mais comum o hábito de irmos ao cinema e nos depararmos com programações com um grande espaço para filmes dublados e pouquíssimo para filmes com cópias legendadas. A última pesquisa realizada sobre o tema foi feita em 2008, pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Rio de Janeiro, onde foi constatado que a maioria das pessoas prefere filmes dublados (56% contra 37% para as cópias legendadas).
Um exemplo que podemos citar para mostrar a preferência brasileira por filmes dublados com o passar dos anos pode ser vista com o filme X-Men. Seu primeiro longa chegou às telonas em 2000, apenas com cópias legendadas. Em 2003, X-Men 2 já tinha 9% das suas cópias na versão dublada. Já neste ano, com o lançamento de X-Men: Primeira Classe, 53% das salas apresentaram o filme em dublado. Ou seja, em 11 anos metade das salas de cinema – e seu público? – aderiram aos filmes sem legenda.
“Isso é visto nos filmes hollywoodianos, em sua maioria, e até mesmo na opção de filmes dublados, já que ouvir é mais fácil que ler e o brasileiro 'não gosta de ler'. Precisamos de uma reeducação geral, em todos os sentidos e urgente! Só assim o cinema mais qualificado será tido como comum pela população”, explica a estudante de jornalismo e cinéfila.
Para Paula Varella Rasera, estudante de letras da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e professora de inglês em uma escola de idiomas em Piracicaba, ela não gosta de assistir filmes dublados e acredita que, pelo tamanho da cidade, deveríamos ter mais salas de cinemas, com mais opções de filmes. “Eu acho péssimo quando os filmes só estream nas salas em versão dublada, pois perde totalmente a essência do filme”, explica.
Mas como fazer para não esperar mais de um ano para ver um filme que o mundo todo – ou o Brasil – já viu e já comentou? Onde assistir os filmes que não entram em cartaz nos cinemas das cidades do interior? As opções são limitadas, principalmente para filmes fora do circuito comercial, “na era da rapidez, e porque não efemeridade, se não for ágil, passa, se perde na memória das pessoas”, disse Nicole.
A alternativa mais eficaz se torna o download na internet. “Infelizmente todos perdem com isso. Claro, teria a opção de ir para São Paulo, onde todos os filmes entram em cartaz, nas datas prometidas pelas distribuidoras, mas os gastos são altos quando a opção do download é ‘gratuita’”, explica Nicole. Vale lembrar que muitos sites para download de filmes e séries não visam à pirataria. Pelo contrário, em suas legendas anunciam que caso tenham comprado aquela cópia, para denunciarem.
É um pouco utópico esperar que cinemas de cidades interioranas, como o de Piracicaba, exibam filmes como Melancolia ou Meia-noite em Paris? Ambos são de diretores fenomenais (Lars Von Trier e Woody Allen, respectivamente) e com atores mundialmente reconhecidos como Owen Wilson, Rachel McAdams e Kirsten Dust.
Seria interessante que as empresas cinematográficas deixassem claro para seu público os métodos para selecionar quais filmes entram em cartazes e o porquê, assim não haveria uma falsa esperança de que um filme ou outro pudesse ser visto.  Enquanto isso, os fanáticos – que vão além dos filmes ligados ao comércio e a Hollywood – esperam para que os “amigos” virtuais disponibilizem as cópias online, ou, quem sabe, alguma locadora de filme o disponibilize em DVD.