05 novembro, 2015

Dedicatória


Em todos esses anos, todas as histórias felizes que tentei escrever com alguém não deram certo. Atirei inúmeras folhas de papel amassado no lixo, manchei meu tapete com tintas de caneta que estouraram quando, por incontáveis vezes, a outra mão resolvia jogá-la no chão, comprovando a desistência de criar um livro cheio de risadas, sonhos e amor. Até um calo no dedo de tanto insistir em escrever sozinha também tive no meu dedo anular.

Mas como quem desaprende a escrever, chegou um dia em que eu desisti, joguei e rasguei todos os meus papéis em branco pelo quarto, atirei todas minhas canetas coloridas pela janela e não conseguia sequer segurar um lápis ou ler uma folha cheia de palavras.

E aí você chegou como uma feiticeira que sabia identificar quando alguém estava derrotado e exausto de sonhar com contos que nunca sairiam sequer da imaginação. E com todo o seu brilho, você se empenhou e conseguiu arrumar toda a minha bagunça romântica literária e começou a escrever este novo livro sozinha.

Quando me deparei, eu é quem estava jogando a caneta no chão dessa vez, manchando toda a história que você projetava. Foi nessa hora que eu levantei e te mostrei que eu ainda guardava comigo uma caneta bic de quatro cores e perguntei se você se importaria em dividir comigo as páginas em branco para escrever esse romance a duas mãos e com um pouco mais de cor além do azul que você estava usando.

Você sorriu e o branco dos teus dentes iluminaram o túnel dentro do meu coração e suas palavras não precisaram sair da boca para me dizer que não se importava nenhum pouco em escrevermos essa história juntas.

Eu, que já estava acostumada a voltar para o chão logo depois de começar a flutuar em sonhos e pensamentos para transcrever durante a vida, ainda estranho, vez ou outra, esse voo constante que é dividir a escrita do mais lindo livro da minha vida contigo, que além de me levar para longe do chão, trouxe também a mágica dos contos de fada para a minha vida.

E é por isso que lhe dedico este texto: por dividir a caneta, as páginas em branco, a mesa e misturar a tua caligrafia com a minha.

Entre sorrisos

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Em certo filme que muita gente já viu e compartilhou pelos quatros cantos das redes sociais e da vida, aprendi que “happiness is only real when shared” (ou seja: a felicidade só é real quando compartilhada). E é sobre isso que eu queria compartilhar com vocês, mas mais especificamente nos relacionamentos – amorosos ou não.

Quem nunca ficou tão feliz com alguém que, de tanto rir, a barriga doeu e, assim, só se sentiu ainda mais feliz? Aliás, quer felicidade mais louca do que essa que faz a barriga doer? Se me contassem dessa felicidade sem nunca a ter sentido, chamaria a todos de loucos. E quem nunca compartilhou momentos únicos com amigos, familiares ou namorado(a) que, só de lembrar, os cantos da boca se mexeram instantânea e involuntariamente, esboçando um sorriso em meio à seriedade da planilha do excel aberta na tela do computador?

Já li em algum lugar que você encontrará alguns amigos com facilidade quando estiver com problemas e dificuldades, mas que os amigos ou as companhias verdadeiras serão somente aquelas que conseguirem te acompanhar também durante os dias de Sol. Afinal de contas, quantas pessoas encontramos por aí que se deliciam simplesmente pelo prazer de nos verem por baixo? Inúmeras. Por isso eu aprendi desde cedo com a minha mãe que, por exemplo, depois de uma entrevista de trabalho, até ter o resultado final, não devemos fazer alarde. Muitos são os que nos querem longe do sucesso, poucos são os que nos acompanharão faça chuva, arco-íris ou um dia azul.

Mas, ainda mais alegre que todas as felicidades escritas e descritas pelos poetas mais inteligentes e românticos, quando o teu riso ecoa no meu sorriso, me sinto plenamente no paraíso.

Entre brincadeiras, conversas sérias e olhares enigmáticos, o teu riso é o som que eu poderia ouvir por todo o resto da minha vida. Ainda melhor do que compartilhar a felicidade, é dividir o motivo de todos meus sorrisos contigo.

Ser tia e espalhar felicidade


Quando eu soube que você iria chegar, confesso que não fui muito entusiástica, mas não pense que era porque eu não queria te conhecer… Eu apenas ansiava tanto a sua chegada que eu não sabia sequer como reagir instantaneamente. Eu meio que não acreditava que iria ser tia.

E então você chegou naquele dia 11 do primeiro mês do ano de 2011 e quando eu a conheci, eu não tinha intimidade para ousar te pegar no colo. Eu queria cuidar de você, mas não sabia se as minhas mãos iriam saber te cuidar da forma que merecia e sem te machucar, já que você era tão pequenina e frágil. Aos poucos, fui me soltando, você também, e em um carinho sincero na sua nuca, vi o seu primeiro sorriso e o meu coração se derreteu.

Os dias passavam e era comum ter a casa cheia de brinquedos pelo chão aos finais de semana e eu aprendia cada vez mais que o amor é bem mais puro e leve do que eu jamais havia suposto. Não é um amor de mãe ou pai que tem que se manter firme para educar, nem tampouco um amor de avó que só quer mimar… Esse amor de tia é um amor que mistura todos esses amores, proteções, mimos e um pouco mais.

Eu, acostumada com um sono rígido e longo, não me importava em acordar às seis horas da manhã para ser sua babá por algumas manhãs. Na verdade, era bem mais alegre do que dormir até às onze. Inventar brincadeiras se tornou rotina nos meus dias só para te fazer sorrir. Afinal, esse foi o papel que eu designei pra mim mesma: fazer-te sempre feliz – até mesmo às três da manhã, no meio do meu sono, quando a vovó não conseguia te fazer dormir.

Aprendi que quando se é tia, não importa se você saiu ontem à noite e está de ressaca, você vai acordar cedo e vai encher um milhão de bexigas para o aniversário de um ano que sua sobrinha ou sobrinho sequer vai lembrar. Assim como também não tem importância fazer um papel de “ridícula” e tirar foto fazendo pose da Margarida ou sair com o cabelo bagunçado nela porque ela ou ele está nos seus ombros vendo o mundo do alto. O que importa, na verdade, é o sorriso dela ou dele.

Quando você aprendeu a andar, eu aprendi também que cada conquista sua me fazia sorrir e compartilhar isso com todo o resto do mundo. Confesso que devo, inclusive, ter cansado alguns ouvidos de tanto falar de ti, mas era inevitável.

Descobri que ser tia não importa se tens cinco ou cinquenta reais no bolso, mas o que tens será transformado em um pouquinho de demonstração de amor para que o seu sorriso vá de orelha a orelha (desde um sorvete, pescaria em Festa Junina, balões da Minnie, bonecos Little Poney ou seu primeiro patins).

Graças a você, eu pude saber o quanto é divino ter uma criança adormecida em meus braços após um dia cheio de risos, brincadeiras, escorregadores e balanços. Mas, acima de tudo, eu aprendi que quem exerce o papel de tia nessa vida o recebe para espalhar felicidade sem fim a esses seres pequeninos.

E eu, como tia, queria declarar que o que eu puder fazer para te proporcionar os momentos mais felizes da sua infância, adolescência e até mesmo juventude, eu farei – até mesmo voltar à minha infância e brincar na piscina com você e suas amiguinhas, fantasiando que sou a mãe sereia de vocês. Afinal de contas, você é a princesa mais linda desse planeta.

Avisa o papai e a mamãe que eu ainda espero pelo dia em que te levarei para conhecer o mar de Florianópolis e passaremos o dia construindo castelos de areia que o mar levará e eternizará embaixo do oceano, junto com esse laço imensurável de amor que criei por ti, minha menina feLiz.

O que tem de ser, será


Durante todos esses anos, nunca me convenci completamente que nossa vida fosse regida pelo Destino – Deus, acaso ou coisa parecida –, mesmo acreditando um pouco nessa verdade. Até você chegar.

Sempre acreditei, sim, que conhecemos determinadas pessoas por algum motivo – as especiais, principalmente – e que nem todas irão permanecer ao nosso lado até nosso último suspiro… Mas constantemente mudamos de opinião e ideias – sem contar a imensidão de escolhas erradas que fazemos durante o percurso também –, então quem garante que aquilo que escolhemos pra viver realmente foi destinado a nós?

Meu sonho sempre foi morar no sul no país, mas que essa aspiração me traria tantas outras realizações eu jamais poderia supor. Quando, desde 10 anos atrás de desejos de vir pra cá, que eu iria imaginar que acharia uma vaga exatamente naquilo que eu gosto e com um bom salário para quem acabou de se formar e tinha 23 anos e, dias antes desse processo seletivo, um conhecido me levaria até sua irmã – e amiga sua –, que viria a ser uma breve “housemate” e me traria você, que sempre esteve tão perto mas o Destino não conseguia nos apresentar? Nunca.

E eu, tão focada única e exclusivamente em exercer o papel que escolhi para mim de ser uma funcionária exemplar e agradecer todos os dias ao Universo por ter me impulsionado a me arriscar e vir pra cá, coloquei uma venda para fingir que não via você. Eu não podia sair do caminho que tracei pra mim mesma. Eu não queria sair do que eu havia planejado pra mim mesma.

Mas como já diria um de meus escritores favoritos, “o que tem de ser tem muita força” (ABREU, Caio F.) e essa força invisível aos olhos e essencial ao coração me fez cair de amores diretamente nos seus braços.

E nunca uma queda me fez tão feliz.

Embora as diferenças gritantes, o signo mais louco te regendo e a teimosia te seguindo mesmo você mandando ela embora, como um ímã, fui atraída para cada vez mais perto de ti, até morar dentro de você e construir sua moradia aqui dentro de mim também.

Eu sei que não sei e não consigo falar muito – foram muitos os traumas que me colocaram nessa minha concha canceriana que me mantém segura de tudo –, mas do pouco que falo, é um muito do tudo que carrego em mim por ti. Mas você não precisa ter medo dessa minha concha protetora… Já te coloquei embaixo dela, junto de mim. Assim, nadanos atingirá, meu amor.

Você diz que eu posso ficar o tempo que eu quiser por aqui, sempre insistindo que também posso ir quando eu quiser… Mas deixa eu te contar um segredo: eu quero ficar o tempo todo ao teu lado até o tempo do mundo acabar. Pode ser?

Que o Destino continue a agir e tomara que aja para que continuemos assim… Tão perto que te sinto junto de mim mesmo longe.

Obs.: Espero que vocês todos deixem o Destino agir sobre a vida de vocês.
Desconstruam o que vocês julgam ser feito pra vocês e aceitem o que de fato é. ♥

07 agosto, 2015

Permita que a tristeza te faça feliz


Sabe por que a tristeza é triste? Por causa de você – e de mim, também. Nós fugimos tanto dela, a transformamos tanto nesse monstro desprezível e errado de sentir dentro do coração que de maneira alguma ela poderia ser diferente.

Já a alegria não, ela é sempre exposta, gritada e declarada em cada foto no Instagram ou em cada status atualizado no Facebook. Vai ver é por isso também que nós ainda nos irritamos tanto com a felicidade alheia, né? Mas por que cargas d’água definiram um sentimento como bom e outro não? Cada um tem o seu papel dentro de nós e cada papel é essencial para sermos quem somos.

Desde criança, os meninos são instruídos a “engolirem o choro” porque isso é coisa de menina. E nós, mulheres, quando desaguamos pelos olhos logo ouvimos “está de TPM?” ou “para de mulherzice”. Mas, oras, quem foi que inventou que aceitar e demonstrar a tristeza é errado?

Da mesma maneira que a felicidade nos proporciona lembranças de ouro – a primeira vez que você sentiu um frio na barriga por alguém, ou a primeira vez que você viu um show da banda da sua vida, ou, então, aquele sábado à noite em que você não ia sair de casa e, em um piscar de olhos, se transformou no melhor dia da sua vida – e que carregaremos eternamente, a tristeza também é quem nos leva a sentir a felicidade mais intensamente e a fortalecer cada pedaço de quem realmente somos.

Ou vai me dizer que os meses de luto após o término de um namoro que você costumava considerar como o amor da sua vida, ou a cada vez que a vida te derrubou só pra te deixar mais forte e mostrar que, talvez, outro caminho foi feito pra você, não te trouxe ensinamentos mais valiosos do que aqueles que aprendemos enquanto sorrimos?

É lindo ser feliz e não carregar um sentimento de que falta algo na sua vida, mas é mais lindo ainda você se aceitar tanto, aceitar todos os seus sentimentos, a ponto de molhar o seu travesseiro à noite e mostrar ao mundo seus olhos inchados de uma noite mal dormida.

Então o meu conselho para todos aqueles que fogem diariamente das batalhas travadas com as suas infelicidades interiores é uma só: aceite, deixe os olhos transbordarem até inundar o seu coração e, acredite, serão esses dias escuros e cinzas que farão você chegar aos pores-do-Sol alaranjados em frente ao mar.

Sabe por quê? Porque um sentimento só vai embora depois de transbordar. Enquanto você engolir o choro e acreditar que você tem que ser feliz todos os dias da sua vida, você vai ser tudo, menos feliz.

Bagagem emocional

Demonstrar é tirar tudo de dentro e colocar à mostra. 
E tudo que se mostra é muito arriscado.



Você já parou para pensar que todos nós carregamos, diariamente, bagagens emocionais? É, isso mesmo. Uma mochila, uma mala ou uma bolsa similar a essas que você leva todo dia para o trabalho – depende do quanto você está disposto a carregar.

E nós, seres humanos acomodados e nada dispostos a trocar aquela mochila velha e surrada por uma nova porque “eu gosto tanto dessa mochila, eu conheço cada bolso dela, cada zíper quebrado”, preferimos continuar carregando nossas bagagens emocionais pesadas e surradas do que encostá-las e pegar uma mais leve.

Convenhamos, é muito mais fácil continuar carregando aquela mala que você sabe que pesa e machuca exatamente na mesma proporção de ontem do que ousar trocar por uma mais nova a qual você não sabe se vai machucar o seu ombro ou não. O novo amedronta.

Mas, cedo ou tarde, da mesma maneira em que você para de usar um sapato, pois a sola saiu de tanto usá-lo, você – e eu também – tem que se livrar dessa bagagem que não serve mais para guardar nenhum sentimento bom.

Recentemente eu fiz uma limpeza sentimental dentro de mim e, me desculpa, coloquei aquela bolsa surrada que você me emprestou com uma dose de amor dentro do meu baú imaginário com tudo que poderia ter sido e não foi. Decidi deixar pra lá essa ideia de carregar você comigo de um lado pro outro. Não posso – e nem quero – te apagar da minha história, mas deixei as páginas desse livro em cima da estante para juntar pó.

Larguei minhas bagagens emocionais que tanto pesavam e abri espaço para quem estiver disposto a encher-me de leveza, risos e borboletas no estômago. Quem sabe não é você, se aceitar me carregar contigo.

Ah, teus olhos verdes




Quer saber um segredo, que talvez eu nunca tenha contado pra ninguém? Eu sempre quis ter um amor com a cor dos olhos esverdeados. É, igual a esse teu que ainda não se cansou de olhar para os meus com cor de terra.

Sempre ansiei pelo mergulho nesse mar que alguns carregam no olhar, mesmo que todos meus amores antigos só tenham me oferecido o chão, não o pulo nessas águas lindas que vejo sempre quando meu olhar cruza com o teu.

Mas, ao contrário de todas minhas expectativas, esse teu mar é calmo e doce. É tão bom não ter que me manter alerta o tempo inteiro enquanto nado em ti, como se fosse me afogar, muito menos fechar os olhos e a boca para que o sal não me deixe ainda mais amarga. Sua doçura sai por todos os lados e só me faz te querer ainda mais.

Às vezes me pergunto se até suas lágrimas têm o gosto adocicado. Devem ter. Menina, queria te dizer que você é pura poesia. E, como todo verso declarado, esbanja alegria, pureza e suavidade por onde quer que passe.

Aprendi com o tempo que, assim como nas refeições, na vida devemos manter o nosso sabor em equilíbrio. Não se endurecer demais, não se amolecer de menos. Para pessoas como eu, extremistas, difícil chegar nesse ponto, mas não impossível.

De repente o teu sabor, misturado com o meu, seja o ponto perfeito para não nos estragarmos mesmo que o tempo passe. Diga-me o que gosta que eu procuro a receita. O que for do teu agrado, assino embaixo.

15 junho, 2015

Você insiste em querer colocar um ponto final em algo que não aceita menos do que vírgulas e reticências. Me encho de interrogações e só ouço sua voz gritando exclamações. Entre a vírgula e o ponto final, decido aceitar o ponto e vírgula. Que seja pausado agora, e volte mais leve, mais calmo... Mais pronto para que possa acontecer.

Tempo certo

Era sexta-feira e o meu coração estava com uma vontade exagerada de mandar sinais para o cérebro deixar meu corpo ficar o dia todo na cama. Ao olhar pela janela, não havia sequer uma fresta colorida de azul no céu que estava nublado. Aos poucos pude perceber que a cidade era uma espécie de capital cinza e colorida, ao mesmo tempo.

Coloco um pé no chão e, similar a colocar o dedo na tomada e sentir a corrente elétrica correndo da cabeça aos pés, senti uma onda de ansiedade percorrer todo o meu corpo. Era como se minha alma já soubesse que, naquele dia, minha vida inteira mudaria.

Sem pressa, me arrumo e realizo todas as minhas tarefas diárias. O tempo passa, mas a angústia não. E pior do que viver um dia de angústia, é não saber o motivo dessa agonia que parece ter duas mãos extremamente fortes posicionadas bem em cima do peito.

Enquanto espero o ônibus, faço uma lista mental de todas as razões que poderiam me levar a sentir esse medo e felicidade, tudo junto e misturado.

– Aniversário de alguém especial? Não. Entrega de um trabalho importante? Não. Algum event…

Até que o ônibus chega e, num susto de volta à realidade, interrompe minhas indagações. O transporte estava tão lotado que acabo esquecendo o quanto meu coração estava prestes a transbordar de algo que eu nem sequer conseguia descobrir o que.
 
Mesmo entediada, conforme as horas passavam e meu dia era ocupado por obrigações, mais eu conseguia tirar do foco o que meu coração havia decidido gritar desde a hora em que acordei, mas eu, leiga na linguagem da saudade, não consegui decifrar.

No caminho de volta pra casa, enquanto navegava pelas redes sociais em busca de qualquer distração até chegar ao meu destino final – minha cama –, me dei conta que era dia dos namorados. Nessa hora, todos os casais e o excesso da dosagem adocicada em cada um – fosse pelas ruas ou pelas postagens – fez sentido. Mesmo que, pra mim, não passasse de mais uma sexta-feira como outra qualquer.

Isso até o momento em que, em casa, abri a caixa do correio e me deparei com uma correspondência sem remetente. Eu andava tão esquecida que até olhei no calendário para confirmar que não estava esquecendo nada. E realmente não estava.

Sentada no meu quarto, abro o envelope branco e, nele, encontro nada além do que um papel dobrado com tanto cuidado que parecia ter sido feito milimetricamente planejado para que suportasse as mãos suadas, geladas e rápidas dos correios.

Quando o abri, puder notar que não reconhecia a letra. Conforme realizava a leitura, as lágrimas começaram a escorrer tão naturalmente quanto as minhas mãos buscavam pelas tuas quando dividíamos a cama – e a vida.

Na carta, você tentava ser breve ao me atualizar com tudo que eu já sabia sobre você, mesmo que eu não tivesse ouvido nada de você durante todo esse tempo. Ao final, você me pedia desculpas por, na época em que terminamos, não ter tido coragem para estar comigo, me tirava a dúvida e me enchia com a certeza de que também esteve pensado em mim… E, mais do que isso, me dava o aviso que naquela noite iria chegar na cidade que eu escolhi como lar. Você finaliza a carta com seu novo número e dizia que se eu quisesse poderia te ligar para nos encontrarmos.

Eu esperei tanto tempo por isso que todo esse tempo de espera me faz hesitar se te procurava ou não. É que eu não conseguiria te ver indo embora mais uma vez, sabe? Eu demorei tanto tempo para conseguir me reerguer que, talvez, eu não estivesse pronta ainda para me permitir fragilizar o coração por alguém novamente. Principalmente se esse alguém fosse você.

Tomo uma, duas, três cervejas e todo o amor que eu sentia no dia em que decidiu seguir sem mim me toma as mãos e te ligo. Quando você atende, quase me lembro de que quase tinha esquecido a sua voz e tenho que me concentrar para não mostrar meu nervosismo e gaguejar.

Marcamos de nos encontrarmos em uma pizzaria que não era tão boa quanto àquela que comíamos quando eu te visitava, mas engoli tanto as palavras nos últimos meses que até mesmo o gosto de algumas comidas acabou mudando.

Em meio aos risos, sorrisos e a vontade constante de te pegar pelos braços e puxar para dentro do meu abraço, você acaba confessando que, assim como eu, tem acompanhado minha “vida” por algumas redes sociais e que cansou de lutar contra nós. Antes que você terminasse a frase, eu já não conseguia pensar me nada.

Quando vi, estava com as mãos no seu pescoço e preparada para encostar os meus lábios nos teus. Nesse segundo, com você bem à minha frente me mostrando mais uma vez todos os motivos pelos quais me apaixonei por você, eu não queria saber de nada. Não queria explicativas, justificativas, e nem mesmo declarações. Eu só queria você.

Naquele segundo, eu não pensava em nada. Nada além de que, realmente, as coisas – e até mesmo o amor – têm seu tempo certo. E, talvez, naquele dia fosse a nossa hora de começarmos a ser felizes.

08 junho, 2015

Quando o nó aperta e sufoca

Um nó sufoca. Dois nós vira a gente em um abraço apertado.


Sabe aqueles dias em que você acorda com um aperto no coração, sem explicação? O aperto simplesmente chega, assim como nasce um fio de cabelo branco: inesperadamente e sem convite prévio.

Alguns acreditam que esses apertos podem ser gases. E podem mesmo, sabia? Mas não é o meu caso. Assim como também não é derrame. Estou muito nova pra isso – se é que existe idade para esse tipo de coisa.

Costumo sempre ter o coração esmagado por intuições. Elas nunca falharam e essa mania certeira do meu “terceiro olho” sempre me tira um pouco do chão, porque vira e mexe é você quem me aparece dentro da cabeça me instigando que algo pode estar errado. Se estiver, você me procura? Espero que sim, mesmo sabendo que não.

De qualquer forma, não é isso também. Acho que é saudade sabe? Tanto tempo se passou no meu calendário desde nossa última conversa, mas continuo sonhando contigo. Ao menos uma vez por mês tu me encontras pelas nuvens que se cruzam nessa viagem intergalática dos sonhos e é sempre tão semelhante. Não os sonhos, mas os significados dentro deles. Eu te conto sobre todos eles, se um dia quiseres. É só me falar.

Por mais contraditório que possa soar, parece que minha alma, quando está livre para ir onde quiser e fazer o que bem entender, ainda não aprendeu a viajar em direções opostas a você.

E como todo sonho bom, ao mesmo tempo em que é prazeroso te ter bem perto de mim por alguns minutos nesse mundo onde o céu é o limite (ou será que o tempo do mundo dos sonhos corre em anos? Deve correr, visto que acaba tão depressa), também é angustiante abrir os olhos e não te enxergar nessa minha realidade tão colorida, mas que não tem suas mãos para me mostrar que a palheta de cores é ainda maior do que as que tenho usado no quadro da vida.

21 maio, 2015

"O amor é tudo aquilo que nós dissemos que não era"


O amor não é saudade, é presença mesmo na distância entre dois corpos que não podem dividir o mesmo ar. Não é sonhar e aspirar pelo mesmo, mas podermos somar e multiplicar todos os sonhos.

Amar não é escrever cartas românticas a todo instante, mas encontrar alguém que saiba e consiga te ler mesmo nos dias em que nenhuma palavra sai de ti. Não é lembrar-se de datas “especiais”, muito menos espera-las para presentear àquele que se ama, mas sim transformar o dia a dia do outro, durante todos os dias.

O amor também não é aquilo que lhe dá paz, nem tampouco um furacão. É simplesmente sentir a presença do outro como se a brisa do mar estivesse a soprar seu coração. Não é aquecer nas noites frias, é sentir-se suficientemente bem com a companhia do outro para não sentir calor em excesso, muito menos frio.

O amor não é paciente, é compreensivo. Só é preciso tolerar aquilo que não compreendemos, o que é compreendido é respeitado e aceito. Não é encontrar o seu equilíbrio em alguém, mas andar constantemente em uma corda bamba que pode se soltar a qualquer segundo – basta a outra pessoa, ou você, decidir soltar uma das pontas. 

Para amar, não é preciso entregar seu coração nas mãos de alguém, mas sim alugar um espaço dentro do teu peito para alguém que já o conquistou. Não é lamentar durante todos os dias que antecedem o encontro, mas agradecer por ter encontrado alguém bom o suficiente para mexer com os cantos dos teus lábios.

Não é esquecer os problemas enquanto tomam um café num domingo à tarde, mas ter um par a mais de mãos te ajudando a resolvê-los. Não é perder noites de sono pelas brigas ou pela euforia da felicidade em ter alguém, mas dormir como um bebê após ser ninado pela mãe. É descansar em paz para que o tempo corra ainda mais depressa.

Não é mentir ou omitir parte das suas histórias para para evitar despertar desconfianças no outro, mas saber que ele não te julgará. Pelo contrário, sentará contigo em uma mesa de bar e dará risada das mesmas coisas que você.

Não é ceder a sua jaqueta para que o outro se esquente enquanto você tenta não demonstrar estar tremendo de frio, mas sim levar um agasalho a mais no caso dela ter se produzido tanto para te impressionar – mesmo que nós saibamos que ela ficaria linda até mesmo com a maquiagem borrada, o cabelo bagunçado e de pijamas – que tenha se esquecido do essencial.

Também não é esperar encontrar alguém igual a ti, com os mesmos gostos e preferências. Assim como não é, também, encontrar alguém totalmente oposto à você. Talvez o amor seja encontrar alguém que simplesmente faça sua vida um pouco mais colorida, independentemente das suas crenças e anseios.

Amar, por fim, não é obstáculo. O amor é solução. Por isso, quando houver empecilhos demais, desconfie. Esse sentimento pode ser qualquer coisa, menos amor.

12 maio, 2015

frágil.


"Frágil: você tem tanta vontade de chorar, 
tanta vontade de ir embora. 
Para que o protejam, para que sintam falta. 
Tanta vontade de viajar para bem longe, 
romper todos os laços, sem deixar endereço. 
Um dia mandará um cartão-postal 
de algum lugar improvável. 
Bali, Madagascar, Sumatra. 
Escreverá: penso em você. 
Deve ser bonito, mesmo melancólico, 
alguém que se foi pensar em você
 num lugar improvável como esse. 
Você se comove com o que não acontece, 
você sente frio e medo. 
Parado atrás da vidraça, 
olhando a chuva que, 
aos poucos, começa a passar."
(Caio Fernando Abreu)



Somos feito frascos de vidro, frágeis, e a qualquer segundo podemos cair, nos despedaçarmos e desintegrarmos até deixarmos de ser o que costumávamos ser.

A diferença entre nossa fragilidade e a de um pote de azeitona é que nós, humanos, teimamos em achar que somos eternos. Deixamos a louça pra lavar depois, deixamos pra ver os amigos amanhã, adiamos a viagem dos nossos sonhos para o mês que  vem e transferimos aos ventos - ou ao destino, como quiser - a responsabilidade de amarmos só no ano que vem.

Acreditamos sermos donos das nossas vidas, mas esse poder nos é tirado mais rápido que um piscar de olhos.

Eu não me despedacei por você, me mantive intacta pra continuar sendo sua. Mas você tentou - e conseguiu? - me despedaçar até eu não existir mais dentro de você. Enquanto tento colar as peças pra te mostrar o sentido em sentir, você bem que poderia esquecer aquela história da vida nos colocar mais uma vez frente a frente e simplesmente vir me encontrar.  

Vem?

16 abril, 2015

voe.



 - Voe. Se liberte.
- Eu estou voando. O desafio está em querer pousar e
me aninhar em outros braços e abraços.

Feito um pássaro que se perdeu do bando, bato minhas asas de um lado para o outro, completamente perdida de mim mesma. Mesmo machucada, passo por entre as nuvens, me deixo molhar pelas gotas de chuva e, quando o Sol decide se pôr, me posiciono em qualquer árvore para observar a paisagem.

Desde o dia em que você desfez nosso ninho, não teve um dia inteiro que passei sem pensar em você. Daqui de cima a vista é tão bonita e tão mais clara que pensei poder te avistar sem dificuldades, mas você se escondeu tão bem de mim que tudo o que encontro são apenas rastros e pegadas que se confundem com os passos que demos juntas.

Há pouco tempo escolhi uma cidade e pousei. Decidi descansar meu corpo dessa viagem – ou seria fuga? – que já vem durando alguns meses. Encontrei o meu pedaço do paraíso da Terra e acreditei que, aqui, não te sentiria.

Ao contrário de todas minhas certezas, te vejo todas as vezes que o Sol decide aparecer entre as montanhas que me cercam. Te sinto também todos os dias em que ele não sai e se esconde dentro da tela cinza que São Pedro pinta para que a água brote também de fora pra dentro da gente.

A verdade é que eu não vou construir um novo ninho até você voltar. Vou continuar voando de um lado pro outro, em uma busca incessante pelo teu cheiro. O mundo é gigante, mas é também um ovo. Quem é pra cruzar nosso caminho, encontra um jeito de aparecer.

Você já me apareceu, agora só falta reaparecer e decidir ficar.

15 abril, 2015


Hoje quando pisei na rua às 07h da manhã estava garoando. O Sol não havia aparecido e todo o céu se protegia do vento com uma coberta cinza que deixava tudo um pouco mais triste.

Pulei da cama de uma só vez, como de costume, mas abrir os olhos não foi tão rápido assim. Eu estava vindo de um lugar especial, de um mundo o qual nada me mantinha longe de ti. Sim, nessa manhã eu acordei de um sonho bom com você. Só de lembrar já me dá uma vontade absurda de voltar para os teus braços.

Eu queria que você fosse esse computador e me ouvisse registrando cada flash de uma noite mergulhada em sonhos. Queria que você tivesse vindo me encontrar de verdade, dizendo sentir saudades e se entregando pra mim – dessa vez, definitivamente.

Na verdade, o que eu quero mesmo é você. Longe, perto, tanto faz. Eu já tenho tanto de você dentro de mim que a consequência mínima para esse tanto de amor é, simplesmente, te querer aqui.

Hoje eu aproveitei as nuvens carregadas e mandei, por elas, um beijo molhado pra você. Quando elas desaguarem em Marília, espero que esteja na rua e o receba. Elas disseram que iam se reunir com o relâmpago e pedi para que ele fizesse do céu um palco e tocasse Wonderwall pra você. O vento também passou forte por mim e se encarregou de levar um pouco do meu cheiro até você.

Tomara que ainda se lembre dele. Ou de mim.

09 abril, 2015

fight!

A pior batalha da sua vida não será em busca do melhor emprego contra os candidatos mais bem qualificados. Tão pouco será contra o governo em busca de melhores salários, hospitais ou ensino público.

Também não vai ser contra a sua mãe que não aceita sua sexualidade ou contra o seu pai que não quer te emprestar as chaves do carro para ir ao cinema. Nenhuma dessas batalhas são significantes diante da pior delas: a batalha interna contra seus próprios demônios.

Quando o coração veste um colete à prova de amores e a cabeça toma a frente nessa guerra, seu maior inimigo é você mesmo.

Não adianta correr ou hastear a bandeira branca em busca de paz... Entre razão e emoção não existe equilíbrio: um precisa deixar o campo de batalha para que o outro respire aliviado.

02 abril, 2015

deixir.



Tem um barco na minha casa e, antigamente, ele costumava navegar em direção ao teu abraço. Era como se o piloto automático, com destino à tua casa, tivesse vindo embutido nele.

Da última vez que nos falamos, você jogou álcool para atear fogo no motor dele pra que eu nunca mais viesse a te procurar. O que você não sabia era que o líquido para me manter longe também serviria como combustível para me embriagar desse amor que (ainda) me prende a você, que já se desprendeu dele há algum tempo.

Nunca mais coloquei meu barco em alto mar para te amar, mesmo continuando ancorada ao que poderia ter sido e não foi.

No último pôr-do-Sol, transformei minha saudade na alegria de outra pessoa. Tirei a poeira da minha garagem e presenteei um senhor que estava sentado olhando o horizonte e desejando voltar para casa. Ele sorriu e partiu.

Enquanto eu observava o barco sumir na imensidão azul que se confundia entre o céu e o mar, lembrei que o motivo de te amar não estava em estar com você, mas simplesmente sentir.

Eu parti e sorri também.