02 abril, 2015

deixir.



Tem um barco na minha casa e, antigamente, ele costumava navegar em direção ao teu abraço. Era como se o piloto automático, com destino à tua casa, tivesse vindo embutido nele.

Da última vez que nos falamos, você jogou álcool para atear fogo no motor dele pra que eu nunca mais viesse a te procurar. O que você não sabia era que o líquido para me manter longe também serviria como combustível para me embriagar desse amor que (ainda) me prende a você, que já se desprendeu dele há algum tempo.

Nunca mais coloquei meu barco em alto mar para te amar, mesmo continuando ancorada ao que poderia ter sido e não foi.

No último pôr-do-Sol, transformei minha saudade na alegria de outra pessoa. Tirei a poeira da minha garagem e presenteei um senhor que estava sentado olhando o horizonte e desejando voltar para casa. Ele sorriu e partiu.

Enquanto eu observava o barco sumir na imensidão azul que se confundia entre o céu e o mar, lembrei que o motivo de te amar não estava em estar com você, mas simplesmente sentir.

Eu parti e sorri também.

Um comentário:

Unknown disse...

Ancoramos nossos sentimentos, mas nem tudo é porto.