16 abril, 2015

voe.



 - Voe. Se liberte.
- Eu estou voando. O desafio está em querer pousar e
me aninhar em outros braços e abraços.

Feito um pássaro que se perdeu do bando, bato minhas asas de um lado para o outro, completamente perdida de mim mesma. Mesmo machucada, passo por entre as nuvens, me deixo molhar pelas gotas de chuva e, quando o Sol decide se pôr, me posiciono em qualquer árvore para observar a paisagem.

Desde o dia em que você desfez nosso ninho, não teve um dia inteiro que passei sem pensar em você. Daqui de cima a vista é tão bonita e tão mais clara que pensei poder te avistar sem dificuldades, mas você se escondeu tão bem de mim que tudo o que encontro são apenas rastros e pegadas que se confundem com os passos que demos juntas.

Há pouco tempo escolhi uma cidade e pousei. Decidi descansar meu corpo dessa viagem – ou seria fuga? – que já vem durando alguns meses. Encontrei o meu pedaço do paraíso da Terra e acreditei que, aqui, não te sentiria.

Ao contrário de todas minhas certezas, te vejo todas as vezes que o Sol decide aparecer entre as montanhas que me cercam. Te sinto também todos os dias em que ele não sai e se esconde dentro da tela cinza que São Pedro pinta para que a água brote também de fora pra dentro da gente.

A verdade é que eu não vou construir um novo ninho até você voltar. Vou continuar voando de um lado pro outro, em uma busca incessante pelo teu cheiro. O mundo é gigante, mas é também um ovo. Quem é pra cruzar nosso caminho, encontra um jeito de aparecer.

Você já me apareceu, agora só falta reaparecer e decidir ficar.

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