"Frágil: você tem tanta vontade de chorar,
tanta vontade
de ir embora.
Para que o protejam, para que sintam falta.
Tanta vontade
de viajar para bem longe,
romper todos os laços, sem deixar endereço.
Um dia mandará um cartão-postal
de algum lugar improvável.
Bali,
Madagascar, Sumatra.
Escreverá: penso em você.
Deve ser bonito, mesmo
melancólico,
alguém que se foi pensar em você
num lugar improvável como
esse.
Você se comove com o que não acontece,
você sente frio e medo.
Parado atrás da vidraça,
olhando a chuva que,
aos poucos, começa a
passar."
(Caio Fernando Abreu)
(Caio Fernando Abreu)
Somos feito frascos de vidro, frágeis, e a qualquer segundo podemos cair, nos despedaçarmos e desintegrarmos até deixarmos de ser o que costumávamos ser.
A diferença entre nossa fragilidade e a de um pote de azeitona é que nós, humanos, teimamos em achar que somos eternos. Deixamos a louça pra lavar depois, deixamos pra ver os amigos amanhã, adiamos a viagem dos nossos sonhos para o mês que vem e transferimos aos ventos - ou ao destino, como quiser - a responsabilidade de amarmos só no ano que vem.
Acreditamos sermos donos das nossas vidas, mas esse poder nos é tirado mais rápido que um piscar de olhos.
Eu não me despedacei por você, me mantive intacta pra continuar sendo sua. Mas você tentou - e conseguiu? - me despedaçar até eu não existir mais dentro de você. Enquanto tento colar as peças pra te mostrar o sentido em sentir, você bem que poderia esquecer aquela história da vida nos colocar mais uma vez frente a frente e simplesmente vir me encontrar.
Vem?
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