01 julho, 2014

O bicho do afeto



Todo afeto é feito um bicho que reside dentro da gente. Ele fica lá, hibernando, até que um pulsar mais forte do coração o desperte. 

A cada carinho, beijo e abraço, maior ele fica. O bicho do afeto é alimentado pelas suas atitudes e palavras. Você manda nele, não eu. Tento trancá-lo e impedi-lo de ficar ainda maior que o coração que o abriga, mas toda minha luta é vã: você sempre chega com esse sorriso meio bobo e ele já começa a pular de alegria por te ver.

Todo o tempo em que você não o visita, ele sempre arruma uma maneira de me lembrar de você. Feito uma picada que não pára de coçar, ele não me deixa te esquecer. Em busca de alimento, ele devora todo o meu coração. Vai ver é por isso que nas manhãs frias acordo com a sensação de ter uma pedra em cima do peito: é o bicho exigindo o re-encontro.

O reencontro não vem e o sufoco só aumenta. O bicho do afeto enfraquece, e, proporcionalmente à sua fraqueza, o aperto dentro do peito aumenta. Assim como as flores morrem no outono, ele não pertence mais ao clima que esse ambiente oferece e lhe falta alimentos para suprir todas suas necessidades.

A cada afeto, mais bichinhos nascem. 
A cada afeto que se vai, mais bichinhos morrem.

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