18 julho, 2011

Grandes Amores

"É, você me pergunta por que choro quando ouço “Resposta ao tempo", vou te contar.

Como digo em Usufruto, grandes amores não são para serem vividos e sim para gente saber que existem.
E no processo natural das coisas, na mesma proporção que nos entregamos a esse amor e desfrutamos da alegria de saber que se é merecedor de tal sentimento, a dor que vem da impossibilidade de vivê-lo tem a mesma proporção de senti-lo.
Também já tive falta de ar por meu amor estar por perto a ponto de ter a certeza que só respirando o ar que vinha dele é que seria possível viver. Perdi a conta das vezes em que meu estômago revirou em sua própria órbita cada vez que eu sentia meu amor ao meu lado. Tudo ao redor era melhor. E claro, a ansiedade de estar junto era imensurável.
Assim como já senti seu cheiro a metros de distância sem nem saber da sua presença e quando olhei pra trás, lá estava o meu amor, a 10 metros de distância. E toma borbulhas no estômago...
Eu sempre soube, toda vez que tocava o telefone, quando era a sua voz que eu iria ouvir e a sensação de levitação era a mesma a cada constatação de que minha intuição não havia me enganado.
E ao ouvir aquela voz rouca?

Nossa, era um verdadeiro acalanto pros meus ouvidos, bastava ouvir o tom daquela voz rouca falando, podia ser até passa a geléia, que eu me derretia e chegava a um local que nada e nem ninguém poderia me afetar.

Nenhum amor será feito com tamanha entrega, jamais, em tempo algum.
Nenhum colchão, sofá, tapete, aviões, carros, paredes de banheiros onde por mais que houvesse enorme burburinho do lado de fora de nós, nossos ouvidos só conseguiam detectar a nós mesmos. O silêncios dos nossos gemidos e respiração. Era como se o mundo parasse para que o bloco do nosso prazer passasse explodindo amor.
Vivíamos tão dentro do que construímos que éramos capazes de sentir todo o efeito de nossos orgasmos apenas no nosso olhar. E como era lindo observar em seus olhos os asteroides desenfreados a buscas de milhares de Universos. Aquelas duas jaboticabas inquietas. Mas quando se aquietavam em meus olhos, era devastadoramente irresistível.
Sentir o cheiro de sua pele era transcendental. Cada centímetro de seu corpo era adorado por mim. Regado, tratado e desfrutado por mim. Nem sei o que dizer de todos os centímetros do meu corpo que pertenciam integralmente ao meu amor.
A cor da sua pele tinha matizes que não consigo na nossa nomenclatura definir. Aquele contraste da pele muito branca com seus macios cabelos negros era a única forma de uma rubro-negra admirar um alvinegro.
Isso sem falar nas gargalhadas que habitualmente erámos acometidos. É, eu e meu amor riamos muito de tudo, nos divertíamos a valer.
Cada frase apaixonada que me era dita, me transportava a um lugar que nunca mais consegui visitar.
Todas as nossas viagens eram uma delícia sem fim.
Nunca fui de dormir em aviões. Fico escrevendo, lendo, assistindo filmes e dificilmente tenho companhia nas madrugadas, mas ficar observando o meu amor dormindo ao meu lado, me tirava de dentro daquelas ferragens e me levava para as nuvens mesmo e eu ficava lá, confortavelmente zelando por seu sono. Olhando aquela carinha de criança feliz e assim atravessávamos oceanos, continentes, meu amor dormindo e eu olhando, de mãos dadas, muito coladas e era maravilhoso. Descobrir o mundo em sua companhia era sempre um deleite.
Aprendi o que é generosidade com esse amor. Aprendi a me abrir de verdade, sem medo da interpretação. Sem mentiras, sem medir as palavras. Nós podíamos dizer tudo e era compreendido perfeitamente. Não tínhamos segredos e mesmo o ciúme era na medida certa e só nos gerava mais companheirismo e certeza de que pertencíamos somente a nós mesmos.
Eu olhava para o lado e sabia perfeitamente que era aquela exata pessoa quem eu queria amar para todo o sempre.
E amarei, para todo o sempre.
Mas grandes amores não são para serem vividos e sim para saber que existem.
E assim, não estamos mais lado a lado, mas esse amor vai ser dono do último pensamento que terei no momento derradeiro, porque foi o que deu o maior sentido pra minha vida.
Não existiu ninguém que se colocou no nosso caminho.

Não nos apaixonamos e fomos a busca de outras pessoas, não brigamos, mas nosso amor foi tão grande que nos ensinou que se não nos soltássemos, iriamos perder o mais precioso que nossos 5 anos juntos nos deu, a constatação de que fomos dignos de viver um grande amor.

Eu sei que é difícil entender que não se deixa um amor assim, mas se deixa sim e é melhor fazê-lo antes que essas visões sejam opostas ao prazer. Antes que as diferenças sejam maiores que as semelhanças. Antes que nossos caminhos se confundam e nos atrapalhem.
E assim nos desvencilhamos e fomos apostar em novos amores. Vivemos relações muito importantes, nos abrimos para que o único exercício que nos faz dar sentido a vida se fizesse. Amar é o único sentimento que importa para que possamos cumprir nossa missão aqui.
Lamento que não pudemos viver o quanto eu gostaria de viver ao lado do maior amor da minha vida - pra sempre - mas sabemos que temos outras vidas e que certamente nos encontraremos muito mais. E que pra sempre é que nem nunca, tempo pra caral...
E, com a distância, e o tempo a gente vai enxergando o grande amor sem a máscara da paixão, que nos cega sem perdão. E vamos vendo nossas desigualdades, aquilo que certamente iria nos incomodar se tivéssemos permanecido juntos, algumas diversidades intransponíveis e chegamos a conclusão de que todos os amores, dos menores aos maiores amores de nossas vidas, só servem mesmo para aprendermos, amadurecermos, desfrutar de momentos gloriosos, respeitarmos ao outro e que apesar de tudo que se diga ao contrário, o ser humano é um viajor solitário.
E assim, minha decisão foi sempre amar desenfreadamente, apostar no que encontro de interessante no meu caminho, sem ficar pensando no que foi, no que deveria ser e principalmente me reinventando a cada novo amor.
Ah! Tempo!!!! Você adormece as paixões, eu desperto.
Se roa mesmo de inveja de mim, pode me vigiar o quanto quiser para aprender como eu morro de amor para tentar reviver."

Lucia Veríssimo.

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